9 out 2020
a cidade,
testemunha de um milhão
de solidões,
da minha é indiferente.
6 dez 2021
fitei-me no espelho e amei.
como minha aparência desgastada sofreu influência daquilo que andei fazendo: pensando muito no mestrado e descuidando das barbas e cabelos, castigando-me para manter pago o aluguel e comendo mal, dormindo mal, mal movendo — descuidando da espinha e da adiposidade.
ainda sobrou ali espalda, tendões e gana. a graça calma do que resiste; atravessa a lama molhado e rabiscado de espinhos, pisando nas corretas pedras.
diáfano para o homem velho que me tornarei, um que carrega consigo também uma doçura de trato e a dor elegante, mas sobretudo um olho raro para o mundo.
amei-me como nenhum outro poderá.
29 jan 2022
algo sobre:
às vezes é difícil suportar a própria mediocridade: corpo vulnerável a doenças; falha no estabelecimento de qualquer rotina saudável; ser o retardatário na carreira em comparação a qualquer par; preguiça de aproximar-se de pessoas — essas coisas te cozinham em banho maria e sal.
mas o que silenciosamente desliza tentáculos pelos gyrus, ampliando em sombra e fumaça e gelando o ar; aquela melancólica convidada que se anuncia com a demanda certa de hospitalidade, intentando assassinar-te — eis a solidão.
a gosto
quando o frio sossega
e se aproxima agosto
bitoquinhas bobas
agosto
acumule:
exaustão honesta dos trampos e planos
agosto
retidão turva, letargia
agosto
descoberta de grandes prazeres da cultura
agosto
efemérides horrendas, diáfanos oníricos
agosto
novo contato com velhos amigos
agosto
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